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Fórum da Igreja Batista Nacional de Areia Branca-RN


    O Jovem Bispo

    Willamy David
    Willamy David


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    Data de inscrição : 08/06/2009

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    Mensagem  Willamy David Qua Jan 27, 2010 5:01 pm

    Durante o reinado do imperado romano Adriano, havia um jovem e nobre romano, de distinção consular, que tinha apenas vinte anos de idade. A sua mãe era uma santa mulher, convertida através do apóstolo Paulo. O rapaz chamava-se Eleutério. Trazido sob os cuidados de sua piedosa mãe e de Anacleto, fez rápidos progressos na vida de santidade. Tão grande eram a sua piedade e pureza, que aos dezesseis anos foi ordenado diácono; aos dezoito, pastor; e aos vinte, bispo de Aquiléia (Veneza).

    As pregações do jovem bispo estavam resultando numa grande colheita de almas, e o seu nome foi levado pelas asas da fama aos ouvidos de Adriano. A política hipócrita desse imperador era mostrar fidelidade aos deuses perseguindo os mais notáveis dentre os cristãos. Em seu retorno do leste, ouviu falar de Eleutério, e enviou um de seus generais, chamado Félix, com duzentos homens, para prenderem o bispo e trazê-lo a Roma.

    Quando Félix chegou com os soldados, encontrou Eleutério na igreja, pregando a uma multidão. Postou os soldados em volta da igreja, e entrou com alguns dos mais confiáveis para agarrarem o pregador. Mal Félix entrara no templo, e a graça de Deus entrou-lhe no coração. Ele foi tocado pela solenidade da reunião. O silêncio e a devoção dos cristãos no templo do Altíssimo, a luz celeste brilhando à volta do bispo, a unção e a eloquência com que ele falava, deixaram o soldado pagão preso ao solo, em temor e reverência. Ele esperou até que o sermão terminasse, mas em vez de se lançar sobre o servo indefeso de Cristo, e arrastá-lo ao martírio, pôs-se de joelhos no centro da igreja, orando ao Deus verdadeiro. O povo foi tomado de surpresa, e os soldados olhavam uns para os outros estupefatos.

    O primeiro a tirá-lo de seus pensamentos foi o bispo, que, tocando-lhe o ombro, falou:

    – Levanta-te, Félix. Eu sei o que te trouxe aqui. É da vontade de Deus que eu vá contigo para glorificar o seu nome.

    O general romano despertou como de um sonho maravilhoso, e proclamou a sua crença no Deus dos cristãos.
    Na jornada para Roma, ao chegarem a um grande rio, pararam à sua margem para descansar num lugar sombreado. Eleutério, cujo coração ardia de zelo e amor, agarrava cada oportunidade para trazer almas a Cristo. Reunindo o grupo à sua volta, falou por um bom tempo da fé cristã. Seu fervor e eloqüência não apenas os convenceu, como arrancou lágrimas de muitos daqueles soldados rudes e ignorantes. Quando ele acabou de pregar, o general Félix anunciou em alta voz:

    – Não comerei enquanto não for batizado!

    O bispo, depois de lhe dar mais algumas instruções, batizou-o, bem como a alguns dos soldados, antes de deixarem as margens do rio.

    Quando chegaram a Roma, o imperador ordenou que trouxessem Eleutério perante ele. O bispo foi conduzido a uma das salas do palácio do Palatino, onde ficava o trono de Adriano. Ao vir o mártir diante de si, o imperador foi tocado por sua beleza e modéstia; a peculiar doçura de sua fisionomia, combinada com a nobreza e a majestade, forçou o perseguidor pagão a olhar o servo de Cristo com um sentimento que beirava ao temor reverente. O imperador bem sabia que o pai de Eleutério três vezes envergara a dignidade consular em seu próprio reinado, e ele via na jovem vítima diante de si todo o induzimento à misericórdia e à compaixão que a riqueza, a linhagem e o talento podem oferecer. A princípio, dirigiu-se suavemente ao moço, pretendendo cativá-lo e seduzi-lo com sua amizade e uma posição no palácio imperial. Mas percebendo que o nobre mancebo era imutável em sua profissão ao cristianismo, deu expansão a toda cólera que o orgulho e o diabo podiam desperta-lhe na alma. O imperador indagou:

    – Como é possível que tu, um homem tão ilustre, te entregues à tola superstição de acreditar num Deus que foi crucificado pelos homens?

    Eleutério permaneceu em silêncio. Novamente o imperador falou-lhe:

    – Responde a pergunta que te fiz. Por que te entregaste à escravidão da superstição, e serves a um homem morto, que sofreu a miserável morte de um criminoso?

    Levantando os olhos aos céus, Eleutério respondeu:

    – A verdadeira liberdade somente é encontrada no serviço do Criador do céu e da terra.

    Num tom mais compassivo, Adriano prometeu:

    – Obedece minhas ordens, e dar-te-ei um posto de honra em meu palácio.

    – Tuas palavras – tornou Eleutério – estão envenenadas com engano e amargura.

    Adriano enfureceu-se com esta resposta, e ordenou que a cama de cobre fosse preparada para o servo de Deus. Tratava-se de um instrumento de tortura que consistia de diversas barras de cobre ou latão cruzadas, sustentadas por pés de vinte e três centímetros de altura. Será melhor compreendido chamarmos de grande grelha. Sob a grelha ateava-se fogo para consumir os mártires.

    Quando o fogo foi ateado, e as chamas lambiam a grade de cobre, o mártir foi despido, levantado pelas mãos rudes dos soldados para a cama de tortura. Depois de uma hora, durante a qual permaneceu acorrentado à grade, sem se queimar, e sem que um único fio de cabelo fosse chamuscado, o jovem foi solto.

    Agarrando o momento oportuno, ergueu a voz e pregou um eloquente sermão aos romanos trazidos ali pela curiosidade.

    – Romanos – bradou o mártir –, ouvi-me! Grande e verdadeiro é o Deus onipotente. Não há outro Deus além deste que vos foi pregado pelos apóstolos Pedro e Paulo, através de quem, muitas curas e outros milagres foram realizados entre vós, e por meio de quem o impiedoso mago Simão foi derrotado, e os ídolos surdos e mudos, como os que o vosso imperador adora, foram feitos em pedaços.

    Adriano, que a tudo ouvia, espumou de raiva, e ordenou fosse preparado outro instrumento de tortura ainda mais terrível. Uma imensa frigideira, cheia de óleo e piche, posta sobre uma grande fogueira. Quando a composição da caldeira estava fervendo e espumando, o imperador advertiu uma vez mais a Eleutério:

    – Ao menos tenha pena de tua juventude e nobreza, e não incorras na ira dos deuses, ou logo estarás como esse óleo fervente.

    Eleutério sorriu à ameaça do imperador.

    – Admira-me – proferiu ele – que tu, que sabes tanta coisa, nunca hajas ouvido falar dos três jovens lançados na fornalha ardente da Babilônia. As chamas subiram a mais de vinte metros, e no meio desse fogo, eles cantaram e regozijaram-se, porque estavam passeando com o filho de Deus a quem eu adoro – indigno sacerdote que sou – e que nunca me abandonou, desde a minha infância.

    Havendo declarado isso, saltou para a panela em ebulição. No momento em que a tocou, o fogo extinguiu-se, e a massa espumante de óleo e piche esfriou e endureceu. O santo mártir, voltando-se ao imperador, indagou:

    – Agora, quais são tuas ameaças? O teu fogo, a tua grelha, e a tua frigideira tornaram-se para mim cama de rosas, e não puderam me ferir. Oh, Adriano! Teus olhos acham-se escurecidos pela incredulidade, por isso não enxergas as coisas de Deus. Reconhece tua insensatez, arrepende-te de tuas más ações, e chora sobre tua infelicidade de não teres, até agora, conhecido o único e verdadeiro Soberano do céu e da terra.

    Adriano não foi capaz de replicar, e mordeu os lábios com raiva. Encontrava-se ali um dos bajuladores do palácio, o prefeito da cidade, que vendo a perplexidade e derrota do imperador, declarou:

    – Grande imperador! O mundo inteiro, de leste a oeste, está sob o vosso controle, e todos tremem sob vossas palavras, exceto este jovem insolente. Deixai vossa majestade ordenar que seja levado à prisão, e eu prepararei um instrumento no qual ele não mais vos insultará. Amanhã, vereis o vosso triunfo em meu anfiteatro, perante todo o povo romano.

    Estas palavras trouxeram alívio ao frustrado imperador, que imediatamente ordenou fosse Eleutério entregue a Corribono, o prefeito, que o trataria conforme achasse melhor. Entretanto, o Servo de Deus ouvira o que fora dito e, cheio de inspiração divina, bradou aos ouvidos do imperador, bem como dos soldados que o estavam levando embora:

    – Sim, Corribono, amanhã verás o meu triunfo, que será o triunfo de meu Senhor Jesus Cristo!

    Corribono fez tudo o que estava ao seu alcance para assegurar o sucesso de seu empreendimento. A fama do cristão invulnerável espalhara-se para longe. A mágoa do imperador, e a promessa de Corribono de preparar uma nova e terrível máquina que asseguraria a destruição do cristão, despertaram o interesse do povo, que acorreu aos milhares na manhã seguinte, ao coliseu. Isso fora arranjado pela providência de Deus, para que não apenas os romanos, mas o mundo, e as gerações futuras, reconhecessem-lhe o poder e glorificassem-lhe o nome.
    Corribono passou algum tempo imaginando um instrumento de tortura. O resultado de seu labor foi um instrumento que revelava brutalidade e ignorância. O invento nada mais era que uma enorme caldeira com tampa, onde despejariam óleo, piche, resina, e alguns ingredientes venenosos nauseabundos. Então, quando o fogo houvesse aquecido a mistura à uma temperatura escaldante, o mártir seria jogado nela, e consumido, segundo calculara Corribono, num instante.

    O sol já vai alto no céu, e os gritos ensurdecedores vindos do coliseu revelam-nos que as bancadas estão lotadas com a plebe impaciente. A imensa caldeira achava-se no centro da arena, e a lenha, ardendo sob ela. Eleutério é trazido à arena. Ele parece jovem, belo e animado, enquanto caminha, com pesadas correntes nos pés e nas mãos, em direção ao tribunal do imperador e do prefeito. Quando ele chega sob o trono do imperador, Corribono pede silêncio com a mão, e fala em alta voz:

    – Todas as nações obedecem ao poder de nosso grande imperador. Somente tu, jovem, desprezas seus desejos. Porque não lhe obedeces às ordens, e não adoras aos deuses e deusas a quem ele adora, por Júpiter, serás lançado na caldeira fervente.

    Eleutério, sem demonstrar qualquer sinal de medo ou preocupação, respondeu sossegadamente ao prefeito:

    – Corribono, ouvi-me. Tu tens o teu rei, que te fez prefeito. Eu tenho o meu Rei, que me fez bispo. Agora, um dos dois há de vencer, e o vencedor há de ser adorado por ti e por mim. Se a tua caldeira suplantar-me a fé, servirei ao teu rei; mas se ela for vencida por meu Rei, tu deverás adorar ao Senhor Jesus Cristo.

    Então os lictores o agarraram, e rasgaram-lhe as vestes. Enquanto o conduziam à caldeira, ele orou em alta voz:

    – Senhor Jesus, tu és a alegria e a luz de todas as almas que em ti crêem! Tu sabes que todos os sofrimentos, por causa do teu nome, são para mim prazeres. Mas para mostrar que todo elemento resiste àqueles que se te opõem, não permite que teu servo seja consumido nesta caldeira.

    Ele foi arremessado dentro da massa borbulhante, e a grande tampa, posta em cima.
    No anfiteatro, o silêncio era de morte. Após alguns minutos de suspense, o imperador ordenou que a tampa fosse removida, para ver se restara alguma coisa do mártir.

    – Toda honra e glória ao Deus eterno! – disse Eleutério.

    as almas que em ti crêem! Tu sabes que todos os sofrimentos, por causa do teu nome, são para mim prazeres. Mas para mostrar que todo elemento resiste àqueles que se te opõem, não permite que teu servo seja consumido nesta caldeira.

    Ele foi arremessado dentro da massa borbulhante, e a grande tampa, posta em cima.
    No anfiteatro, o silêncio era de morte. Após alguns minutos de suspense, o imperador ordenou que a tampa fosse removida, para ver se restara alguma coisa do mártir.

    – Toda honra e glória ao Deus eterno! – disse Eleutério.

    Ele ri de seus inimigos, e reduz a nada as suas maquinações. O jovem estava ileso; nenhum fio de seu cabelo fora tocado, nenhuma fibra em seu corpo estava encolhida, movimento algum de suas feições demonstrava dor.
    Naquele instante, porém, a graça de Deus alcançara o prefeito. Correndo para o imperador, ele apelou com veemência:

    – Oh, grande imperador! Creiamos neste Deus que protegeu seu servo desta maneira. Este jovem é de fato sacerdote do Deus verdadeiro. Se um dos nossos sacerdotes de Júpíter, de Juno, ou Hércules, fosse jogado nesta caldeira, iriam os deuses salvá-los assim?

    As palavras de Corribono caíram como estampido de trovão nos ouvidos de Adriano. Inconversível em sua superstição, e endurecido em sua impiedade, a repentina mudança operada pela graça no coração de Corribono elevou-lhe a indignação ao mais alto grau:

    – O quê?! – Bradou ele, após uma pausa momentânea. – És tu mesmo, Corribono, que ousas falar assim? Teria a mãe deste miserável te subornado para trair-me? Eu te fiz prefeito, dei-te ouro e prata, e agora tu te voltas contra mim para ficares ao lado deste cristão odiado! Agarrai-no, lictores, e deixai o sangue deste velhaco misturar-se ao óleo fervente da caldeira!

    – Ouvi-me por um instante imperador! – clamou Corribono. – As honras e favores que me tens conferido são efêmeras e temporais. Enquanto estive no erro, não pude ver a verdade que agora resplandece diante de mim. Se desejas escarnecer do Deus dos cristãos, e permanecer vítima de tuas tolices e impiedade, faze-o. Quanto a mim, a partir deste momento, creio que Cristo é o verdadeiro Deus. Nego que teus ídolos sejam deuses, e creio nEle, no único Deus grande e poderoso, a quem Eleutério prega.

    Adriano bateu o pé no chão, enfurecido, e fez um sinal para que os lictores levassem de uma vez o prefeito à arena, para ser executado.

    Eleutério vertia lágrimas de alegria. Agradeceu a Deus de todo o coração pela conversão de Corribono, e pediu que o Todo-Poderoso o fortalecesse para suportar os tormentos que estava para sofrer.
    Após a morte de Corribono, o bispo foi levado à prisão. Enfurecido, Adriano rasgou seu manto purpúreo, e retirou-se para o salão imperial.

    O bispo foi confinado numa prisão repugnante, sem comida e sem iluminação, até que seu corpo exausto não mais pudesse realizar as funções vitais. O imperador ordenou que as portas do cárcere fossem trancadas, e as chaves trazidas ao palácio, para garantir que nenhum suborno ou traição lhe roubasse a vítima.

    Deus não apenas o acompanhou para dentro da cova, como proveu-lhe alimento todos os dias. A cada manhã, uma pomba entrava pela estreita abertura no teto, e deixava alguma delicada iguaria aos pés do mártir.

    Ao final de quinze dias, o imperador enviou as chaves do cárcere com uma ordem para que verificassem se a morte havia levado Eleutério. Ao ser informado que ele ainda vivia, e até parecia feliz e contente com a sua vil prisão, Adriano foi mais uma vez possuído pela raiva. Mandou que trouxessem Eleutério. Ele esperava encontrar o jovem reduzido a um esqueleto, e humilde e aterrorizado, como alguns prisioneiros pagãos que ali ficaram por poucas horas. Qual foi a sua surpresa, ao vê-lo mais belo e saudável que nunca, que exclamou: “in flore primae juventutis velut ângelus fulgens” (“Na flor da juventude, brilhando como um anjo”).

    Adriano mandou então que o bispo fosse amarrado a um cavalo selvagem, e arrastado pelos pavimentos maciços das estradas romanas, e assim, esfolado e feito em pedaços. A sentença foi executada. Mas no momento em que o cavalo foi solto, um anjo desatou os nós que prendiam Eleutério, e levantando-o, colocou-o no lombo do animal. Sem demora, o cavalo lançou-se através dos campos, e só parou ao chegar ao topo da montanha mais alta e deserta da cordilheira Sabina, dos Apeninas.

    Enquanto o bispo extravasava sua gratidão ao único e verdadeiro Deus, os animais selvagens reuniram-se à sua volta, como que para dar boas-vindas ao homem piedoso. Eleutério passou algumas semanas em feliz solidão, alimentando-se de raízes e frutas, e entoando louvores a Deus.

    Certo dia, alguns caçadores romanos estavam passando pela cordilheira Sabina, quando viram, à distância, um homem ajoelhado no meio dos animais selvagens. Voltaram correndo a Roma, e relataram a estranha visão. Pela descrição, o povo percebeu tratar-se de Eleutério. Adriano ordenou que um comandante do exército marchasse imediatamente para as montanhas, com mil homens, e agarrasse Eleutério.

    Quando os soldados chegaram ao ponto indicado pelos caçadores, encontraram o santo homem cercado por um imenso grupo de feras, como guarda-costas, que os desafiavam a aproximar-se. Os soldados romanos eram corajosos, e lutavam desesperadamente contra inimigos da mesma espécie, mas havia algo sobrenatural naquela cena, que os enervava e acovardava.

    Após muita exortação e intimidação do general, alguns deles avançaram para agarra Eleutério, mas teriam sido rapidamente despedaçados pelos lobos, se o bispo não lhes houvesse ordenado, em alta voz, que se aquietassem. Os animais obedeceram-no imediatamente, e acomodaram-se aos seus pés, como se temessem uma punição. Eleutério ordenou-lhes que se retirassem para suas tocas nas montanhas, e agradeceu-os, em nome de Deus, pelos serviços que lhe prestaram. O bando de feras foi embora, deixando Eleutério a sós com os soldados.

    Reunindo aqueles homens à sua volta, Eleutério falou-lhes em linguagem bela e poderosa, convidando-os a reconhecer o poder do Deus verdadeiro, a quem até as bestas feras obedecessem. Fê-los ver a insensatez de adorar um pedaço de mármore esculpido, ou de madeira pintada, e explicou-lhes que somente Aquele que reina dos céus pode dar vida e a felicidade eternas. Antes que o sol se pusesse nesse dia auspicioso, seiscentos e oito soldados robustos da guarnição romana foram regenerados, e passaram pelas águas batismais. Entre os convertidos havia capitães de famílias nobres, favoritos do imperador. Eles propuseram deixar livre Eleutério, e voltarem a Roma sem ele. O santo bispo sabia, porém, que apenas atrairiam sobre si a indignação de Adriano, e suas famílias sofreriam uma perseguição que a sua fé iniciante ainda não seria capaz de suportar. Ademais, ele ansiava receber a coroa do martírio, que ele sabia, por inspiração, haveria de receber no final. Acompanhou animadamente os soldados, a fim de apresentar-se uma vez mais perante o imperador.

    A agitação na cidade, quando viram que Eleutério retornara, foi além da descrição. Adriano bem sabia quais eram os sentimentos da turba, e desejava satisfazer-lhe as paixões; por isso, sentia-se obrigado a condenar Eleutério uma vez mais à execução pública.

    Seus milagres e orações diárias estavam aumentando as fileiras do cristianismo; milhares de pessoas começavam a temer o nome do Deus verdadeiro. As execuções públicas, que objetivavam intimidar o povo, tornaram-se fontes de conversão.

    Na manhã de dezoito de abril de 138 d.C., o moço estava novamente diante da multidão, no coliseu. Esse dia tornou-se memorial. Dia onde multidões glorificaram ao Senhor Jesus Cristo através de sua vida.

    Estando Eleutério no centro da arena, um mensageiro foi enviado pelo imperador para indagar se ele sacrificaria ao deus Júpiter. Uma resposta severa e cortante por parte do moço provou que o mártir achava-se mais destemido e invencível que nunca. Adriano ordenou que algumas bestas feras fossem soltas para devorá-lo.
    Uma das passagens subterrâneas foi aberta, e uma hiena entrou na arena. O animal parecia assustado, e pôs-se a correr de um lado para o outro; depois, encaminhou-se gentilmente para o local onde Eleutério estava ajoelhado, e deitou-se como se temesse aproximar-se do servo de Deus.

    O guardador, percebendo a indignação e o desapontamento do imperador, soltou um leão faminto, cujo rugido aterrorizou a multidão. O rei da selva correu em direção a Eleutério, não para dilacerar-lhe as carnes, mas para afagá-lo. O nobre animal abaixou-se diante do mártir, e chorou como um ser humano. Assim consta no relato das testemunhas oculares: “Dimissus autem Leo cucurrit ad B. Eleutherium et, tanquam pater filium post multum tempus videns, ita coram omnibus flebat in conspectu ejus, et manus et pedes ejus lingebat (Atos, Nº 16). Que significa: “Quando o leão foi solto, ele correu para o abençoado Eleutério, e chorou diante do povo como um pai que não via o filho após longa separação, e lambeu-lhes as mãos e os pés”.

    Seguiu-se uma cena emocionante. Algumas pessoas gritaram que Eleutério era um mágico, mas um raio do céu atingiu-as, e elas foram mortas em seus assentos. Outros bradaram pela liberdade do bispo, enquanto muitos, no entusiasmo do momento, gritaram:

    – Grande é o Deus dos cristãos!

    O espírito do mal entrou nos piores dentre os pagãos, e em louco frenesi, eles caíram sobre os que haviam aclamado ao Deus dos cristãos, e os mataram. Foram atacados, em desforra, pelos amigos de suas vítimas, e o que sucedeu foi um horrendo derramamento de sangue. O anfiteatro estava em comoção, e nada se ouvia além dos berros do populacho enfurecido, que se rasgava em pedaços, e dos gritos aterrorizantes das mulheres, misturados aos gemidos dos que morriam.

    Adriano mandou que as trombetas soassem altas e claras, exigindo atenção. Não surtiu efeito; a carnificina continuou, e o sangue já escorria de uma bancada para outra. Finalmente o imperador ordenou que os soldados esvaziassem as bancadas superiores; com muita dificuldade, e com a perda de alguns homens, eles conseguiram acalmar a disputa fatal.

    Eleutério continuou, o tempo todo, ajoelhado no mesmo lugar. O mártir orou a Deus que o removesse desse cenário tão revoltoso e temível. Sua oração foi ouvida. O Todo-Poderoso revelou-lhe, por uma voz interior, que permitiria ao seu servo ser martirizado pela espada. Num arrebatamento de alegria, ele disse às pessoas ao seu redor que, se o imperador o mandasse matar a espada, seria bem-sucedido. A mensagem foi levada imediatamente a Adriano que, num acesso de ira, bradou:

    – Então, que ele morra pela espada! Ele é a causa de todo este tumulto!

    Assim foi feito, o lictor brande o aço e o arremete contra o jovem... Eleutério já não vive. Seu sangue jorra na arena.

    Essa maravilhosa história foi escrita por dois irmãos, testemunhas oculares da maioria desses fatos extraordinários. Eles concluem sua narrativa com as seguintes palavras: “Haec nos duo frates, Eulogius et Theodulus, scripsimus qui ab eo ordinati sumus et bortationibus ejus adjuti semper cum ipso perseveravimus: et ea quae viderant oculi nostri et audierunt áurea nostrae nota fecimus”. Ou seja: “Estas coisas que nós, os irmãos Eulogio e Teodoro, ordenados para este propósito, escrevemos, foram vistas por nossos olhos e ouvidas por nossos ouvidos. Nós, que éramos sempre assistidos por sua santa admoestação, e com ele perseverávamos”.

    Oh, Grande, Maravilhoso e Inigualável é o nosso Deus, irmãos! Aleluia! Quem pode tocar num eleito dEle se Ele assim não o permitir? Tudo está sob suas ordens e nada acontece sem que antes haja Sua permissão. Glória ao Senhor, o criador dos céus e da terra, que através de um jovem, mostrou a uma multidão de idólatras que somente Ele é Deus. Muitos, naquele dia, reconheceram que Cristo é Senhor.

    Louvemos a esse Deus e, assim como Eleutério, rejeitemos os prazeres mundanos, pois a nossa pátria está nos céus, ao lado de nosso Senhor Jesus Cristo. O jovem bispo regozijou-se quando soube que, finalmente, deixaria a vida nesta terra para estar perto de nosso Senhor. Ele abnegou todas as honras que o imperador podia lhe oferecer, pois sabia que o seu tesouro sempre esteve nos céus. Vivamos da mesma forma, igreja, sabendo que também o nosso tesouro está nos céus, esperando e ansiando para estarmos logo ao lado de nosso Deus.


    Fonte: Os Mártires do Coliseu
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